quarta-feira, 4 de março de 2020

Arte e Botões - Estados Unidos de 1994 a 2008 - 04/03/2020

Hoje é um dia muito especial para mim. Celebro vinte anos do início de uma história muito especial, cujo fruto se tornou claro após uma viagem aos Estados Unidos, no final de 2019 e início de 2020. Para comemorar tal fato, resolvi aproveitar que é meio de semana (blog parado) e que tenho uma paixão curiosa pela relação dos norte americanos com o soccer e mandar uma arte para vocês. Vamos falar dos Estados Unidos!


A maior potência do mundo tem um programa esportivo muito interessante, que me desperta um fascínio incrível. Os Estados Unidos são um gigante no mundo esportivo, com inúmeros campeões nas mais diversas modalidades. No basquete, beisebol e hóquei, possuem a maior liga do mundo e são protagonistas, mas também o são no atletismo, natação, ginástica, lutas, tênis, vôlei e muitas outras modalidades. Isso é fruto de um investimento maciço, que começa nas escolas, passa para as universidades e chega ao mundo profissional. É o único país do mundo em que o campeonato universitário desperta tanta atenção quanto as ligas profissionais. A paixão dos americanos pela NCAA é incrível. Mas o país não vive só de NBA, MLB e quetais. Os que não chegam às grandes ligas podem traçar um caminho nas ligas secundárias, que também atraem bom público e rendem aos atletas. Mas, curiosamente, alguns esportes populares não despertam o interesse dos americanos e, mais curiosamente ainda, o esporte mais popular do mundo é um deles.

Para se ter uma ideia do desinteresse, o esporte mais popular dos Estados Unidos é o futebol, mas um que se joga com as mãos. O futebol americano só tem uma liga profissional lá, a famosíssima NFL, que ocupa um período curtíssimo do calendário e, mesmo assim, arrasta multidões aos estádios e às TVs em dias de jogos. O nosso (do resto do mundo) futebol é tão desprezado que é chamado de soccer. Eles até têm a sua liga, a MLS, que tem investimento e está já há quase 3 décadas tentando se tornar atraente. Mas está tão distante da popularidade, que o esporte é muito mais famoso entre as mulheres do que entre os homens. E é isso que acho tão curioso no futebol dos Estados Unidos. Eles têm dinheiro, tentam atrair as grandes estrelas (como fazem na NBA, MLB e NHL), mas não conseguem. Os principais craques seguem o caminho da Europa, da Ásia e até do Oriente Médio, enquanto aos americanos restam atletas em fim de carreira ou latinos medianos.

Em 1990, os Estados Unidos foram para a Itália, disputar a Copa do Mundo. Sem um campeonato profissional e sem bons atletas para jogarem em outros países, eles criaram uma academia de futebol, chamada US Soccer, com o objetivo de formar alguns jogadores e tentarem uma seleção que não fizesse feio na competição. Com alguns jogadores naturalizados de países como Uruguai, El Salvador e Honduras, conseguiram um pequeno gingado para ensinar aos locais como se joga com os pés. Só para se ter uma ideia do que era o futebol lá, o goleiro titular era um ex jogador de beisebol. Toni Meola foi um dos destaques da campanha norte americana na Itália, que perdeu os três jogos (1x5 Tchecoslováquia, 0x1 Itália e 1x2 Áustria).

Querendo fazer algo a respeito e tornar o futebol popular no país, os Estados Unidos se prepararam para uma grande empreitada: a Copa do Mundo de 1994. A competição seria, literalmente, o pontapé inicial de um grande projeto, que levaria à criação da MLS e faria os americanos começarem a longa caminhada rumo à elite do futebol mundial. A construção e o aproveitamento de estádios, o investimento em escolinhas de futebol na seleção nacional tinham como objetivo levar o país o mais longe possível na competição em casa.

No Grupo A da competição, os Estados Unidos tiveram um teste difícil na estreia, mas conseguiram arrancar um empate (1x1) com a Suíça. Depois, o melhor resultado na competição, com a vitória sobre a Colômbia (2x1), favorita ao título. Na última rodada, a derrota para a também difícil Romênia (0x1) não esfriou o ânimo norte americano, que se classificou para as oitavas de final. Ali, pegando o poderoso Brasil, os americanos fizeram um jogo duríssimo, que só foi resolvido aos 29 do segundo tempo, no famoso gol de Bebeto. No feriado nacional de 4 de julho, os Estados Unidos se despediam da Copa que consagraria Romário de cabeça em pé.

Mesmo sendo um sucesso absurdo, os americanos ainda relutavam em entender e gostar de futebol, tanto que o público aplaudiu uma cobrança de lateral em uma das partidas do mundial. Mas a semente estava plantada e, se a MLS demorou a pegar (as primeiras edições da liga tinham como craques Etcheverry e Valderrama), o país começou a frequentar a elite do futebol mundial, com participação em todas as Copas seguintes (à exceção da Rússia, em 2018), seis títulos de Copa Ouro da Concacaf, um terceiro lugar e um vice na Copa das Confederações e duas semifinais de Copa América. Na sua confederação, a Concacaf, deixaram a Costa Rica para trás e, hoje, batem de frente com o México.

É aqui que entra a nossa arte e a nossa brincadeira de hoje. Na minha história, os Estados Unidos fizeram um trabalho de base fortíssimo, no mesmo estilo que os japoneses fizeram com o Projeto Supercampeões (a história você conhece clicando aqui), com algumas modificações.

O trabalho da US Soccer foi de prospecção de jogadores pelo país inteiro, através de escolinhas de futebol, mas com o auxílio de alguns jogadores caribenhos. Os olheiros observavam as competições colegiais e indicavam os atletas com potencial para as universidades, onde o trabalho se identificava. O campeonato de futebol da NCAA era o grande laboratório e, dele, os principais atletas eram encaminhados para o US Soccer Academy, um centro de excelência para o aprendizado das técnicas e táticas do futebol e para a formação de uma seleção de base, que iria disputar as competições juvenis, juniores e profissionais. Dali, a seleção iria correr atrás de seu lugar nas competições mundiais, criar uma liga que formasse novos jogadores e tentar o sonhado título mundial. Os atletas que chegaram à fase final e formaram a seleção americana que vemos hoje (na minha história) são estes:


Antes de apresentar os jogadores, gostaria de dizer que a base que utilizei para formar a seleção é dos jogadores de 1994 a 1998, principalmente. Mas há atletas de 2002 até os dias atuais, que serão explicados a seguir.
  • 18. Kasey Keller - Apesar de Toni Meola ser um goleiro clássico e Howard chegar à Premier League, Keller é o grande ícone do gol norte americano. Reserva de Meola em 1990, chegou à titularidade e disputou posição no gol com grandes nomes, como Friedel e Howard.
  • 2. Marcelo Balboa - Defensor de qualidade, pode jogar tanto na zaga quanto na lateral. Começou em 1990 e se destacou em 1994, formando boa dupla defensiva com Lalas.
  • 3. Carlos Bocanegra - Defensor canhoto, pode jogar tanto na zaga quanto na lateral esquerda. Jogou as Copas de 2002, 2006 e 2010 e atuou em times da Europa.
  • 5. Frankie Hejduk - Defensor, pode jogar de lateral direito, zagueiro ou volante. Jogou as Copas de 1998, 2002 e 2006 e atuou em times da Europa.
  • 6. John Harkes - Um dos maiores craques da história do futebol americano, conhecido como "o capitão para toda a vida", o camisa 6 jogou as Copas de 1990, 1994 e 1998. Meia de qualidade, pode jogar mais recuado, como segundo volante. A qualidade no passe vem de trás e ele chega como elemento surpresa na frente, para concluir com ótimos chutes de fora da área. Atuou em times pequenos da Inglaterra e voltou para ser campeão da MLS.
  • 7. Roy Wegerle - Aqui começa a miscigenação. Este meia atacante nasceu na África do Sul, mas não pôde jogar pela sua seleção, banida por conta do Apartheid. Naturalizado em 1991, jogou as Copas de 1994 e 1998 pelo país. Mito do Elifoot 2, Wegerle jogou pelo Queens Park Rangers e pelo Chelsea, além de outros times pequenos da Inglaterra. Aqui, pode jogar como meia centralizado ou atacante, usando a qualidade de seu pé direito para encostar nos atacantes.
  • 9. Tab Ramos - O uruguaio Tabaré Ramos se mudou para os Estados Unidos aos 10 anos de idade e se tornou Tab Ramos, um volante de qualidade na marcação e na saída de bola. Infelizmente, o seu bom futebol fica em segundo plano, já que ele é mais conhecido por ter levado uma cotovelada de Leonardo na Copa de 1994 que, literalmente, lhe partiu a cara. Ramos jogou as Copas de 1990, 1994 e 1998 e nunca chegou a atuar na MLS, fazendo carreira em pequenos clubes espanhóis e mexicanos.
  • 10. Landon Donovan - O maior craque da história do futebol norte americano, chamado de "Capitão América", colocou o país de vez no mapa do futebol. Com atuações destacadas no Bayer Leverkusen, Bayern de Munique e Everton, o icônico camisa 10 fez os americanos crerem que podem ter um jogador de destaque. Atuou, também, no LA Galaxy e ainda está na ativa, jogando no Leon. Disputou as Copas de 2002, 2006 e 2010, ficando de fora na Copa de 2014, o que gerou uma comoção nacional.
  • 11. Eric Wynalda - Considerado o primeiro grande artilheiro da US Soccer Academy, o atacante jogou a maior parte de sua carreira nos Estados Unidos. Porém, sua fama de artilheiro não se confirmou nas Copas. Disputou em 1990, 1994 e 1998, mas só marcou um gol, o de empate contra a Suíça.
  • 13. Cobi Jones - Xodó da torcida, este jogador tem uma história curiosa. Baixinho, habilidoso, jogou as Copas de 1994, 1998 e 2002, como meia. Mas o que o torna mais famoso foi o fato de ter jogado quatro partidas pelo Vasco, entre 1995 e 1996. Chegou com fama de jogador de seleção e, curiosamente, apresentado como lateral esquerdo (sendo que é destro), Jones entrou mudo e saiu calado (e o pior, sem um centavo).
  • 17. Freddy Adu - Outro jogador de história muito curiosa e mais um fruto da miscigenação. Em 2004, os Estados Unidos anunciaram que tinham descoberto o próximo craque do futebol mundial. Nascido em Gana e rapidamente naturalizado norte americano, Freddy Adu chegava para jogar no DC United aos 16 anos de idade, cercado de expectativas. Habilidoso com sua perna esquerda, o meia canhoto logo atraiu os holofotes e ganhou a seleção à espera de um futuro brilhante nos maiores clubes da Europa. O tempo foi passando e, apesar de ter jogado até no Benfica e no Mônaco, Adu não deslanchou. Aos 30 anos, ainda joga pelo Tampa Bay Rowdies, da USL (nem na principal de seu país está). A coisa mais curiosa é a evolução de sua alcunha. De Pelé Americano, hoje é conhecido como Decepção Americana. Mas futibou de butaum é fantasia e, aqui, Adu é um grande craque, no melhor estilo Messi!
  • 20. Brian McBride - Atacante com faro de gol, mito do Elifoot 2, McBride é ídolo até hoje do Fulham. Pela seleção, jogou as Copas de 1998, 2002 e 2006, marcando três gols. Titular absoluto do ataque nesta seleção.
  • 22. Alexi Lalas - Se é para falar em ícone da seleção norte americana, o nome Lalas é obrigatório! Este zagueiro de 1,91m surgiu na Copa de 1994 ostentando um cavanhaque que lhe dava uma cara de bode incrível, além da fama de roqueiro. Suas atuações, no entanto, mostraram que ele era mais do que uma figura bizarra. Com bons desarmes, ajudou a equipe a avançar na Copa e marcou Romário nas oitavas de final com sucesso. Participou das Copas de 1994 e 1998, mas seu auge na seleção foi a conquista da medalha de ouro nos jogos panamericanos de 1991. Após a Copa de 1994, se transferiu para o Padova, se tornando o primeiro jogador norte americano a jogar na primeira divisão italiana. Além do sucesso futebolístico, Lalas também se destacou na música. Lançou 3 discos solo: Ginger (1998), Far from close (2008) e Infinity Spaces (2014), além de um com a banda The Gypsies, chamado Woodland, produzido e promovido durante a Copa de 1994.
  • Bruce Arena - O comandante da seleção nos períodos de 1998 a 2006 e 2016 a 2017 é um dos grandes professores da história do esporte no país. Treinou equipes universitárias e da MLS e, aqui, é o treinador/coordenador do US Soccer Academy
A brincadeira de fazer a arte e criar a história é gostosa. Mas eu ainda acalento o sonho de mandar fazer esta equipe. Quem sabe até 2022 os atletas dos Estados Unidos não se colocam à prova nas competições da FIFUBO?

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