quinta-feira, 18 de junho de 2020

Arte e Botões - Colômbia 1994 e 2014 - 18/06/2020

Excepcionalmente, a arte da semana será publicada na quinta. Na quarta, foi finalizado o Tour de France da LMC e o blog foi usado para o resumo da competição. Mas não tem problema! Já que atrasei em um dia a arte, vou publicar em dose dupla. E, hoje, vamos falar da Colômbia de 1994 e 2014!


Na última segunda-feira, chegaram uns botões variados que encomendei e, entre eles, dois da Colômbia, representando jogadores de quem gosto muito: Valderrama e Alvarez. Ambos faziam parte daquela trinca de cabeludos clássico da Colômbia na Copa de 1990 e que ainda jogariam no torneio seguinte (o outro é o mito Higuita). Sempre gostei muito dessa equipe, desde a Copa da Itália, tanto que tinha um goleiro daqueles de caixa de fósforo em que colei o escudo da Colômbia e queria colar uns pedaços de lã preta para simular o cabelo do goleiro. Então, resolvi desenvolver o tema. Mas, como gosto muito do futebol colombiano e de sua evolução, fui além e tracei um paralelo entre a equipe que começou jogando a Copa de 1990 e teria o seu auge em 1994 (não fosse o fim trágico) e o que jogou a Copa de 2014. Então, vamos começar a história!

A Colômbia é um país com uma população muito pobre e favelas. O narcotráfico começou a ganhar espaço nessas comunidades e, por um lado (o maior deles), era horrível. Violência, guerras de facções, assassinatos, atentados... a população vivia com medo. Por outro lado, a maioria dos traficantes era preocupada com a população mais pobre e, por isso, investia para fazer o que o poder público não fazia. Os maiores nomes do crime colombiano eram donos de times profissionais, que disputavam o campeonato de futebol.

O maior de todos os narcos era Pablo Escobar e, para fazer jus ao título, ele tinha três times: Atlético Nacional e Independiente, ambos de Medellin, e Envigado. Os irmãos Orejuella, principais rivais de Escobar, eram donos do América de Cali. O Independiente Santa Fé pertencia a Fernando Carrillo Vallejo. Gonzalo Rodríguez Gacha "El Mexicano" assassinou um dirigente para virar dono do Millonarios. Com tantos nomes "de peso", era comum a pressão em árbitros e assistentes, inclusive com assassinato daqueles que expulsavam jogadores ou assinalavam pênaltis contra a equipe errada...

Porém, por mais maléfica que fosse a guerra do tráfico, o futebol colombiano brilhou. Fosse para alegrar a população, fosse para lavar dinheiro, o fato é que estádios foram reformados, campos foram construídos, houve investimento na base e, inclusive, a Colômbia chegou a ser eleita sede da Copa do Mundo de 1986. Mas o país enfrentava graves problemas econômicos e desistiu de sediar a competição.

Mas o investimento era sério. Os narcos queriam que a Colômbia fosse uma potência do futebol. Quando o Nacional de Medellin ganhou a Libertadores de 1989, disseram que houve intimidação de árbitros, mas nada foi provado. Pablo Escobar chamou os atletas do time campeão para a sua fazenda, onde um grande churrasco com pelada de futebol (lógico) os aguardava. E presenteou cada jogador com uma picape zero. No ano seguinte, o Nacional enfrentou o Vasco nas quartas de final da Libertadores. No Maracanã, Higuita fechou o gol e o 0x0 se manteve. Na Colômbia, o jogo foi 2x0 para o Nacional, mas o árbitro relatou depois que sofreu ameaças e até Eurico Miranda disse que havia homens com metralhadoras nos corredores de acesso ao vestiário. A partida foi anulada e um novo jogo aconteceu no Chile, onde os colombianos ganharam por 1x0. Eles perderiam a final para o Olímpia, do Paraguai. Reza a lenda que os narcos também faziam apostas com os seus clubes. Por vezes, pegavam as suas equipes no meio do campeonato e faziam um "jogo contra", valendo dinheiro e, lógico, zoação.

Competições clubísticas à parte, uma coisa unia os criminosos: o desejo de ver a seleção campeã mundial. A Colômbia disputara a última Copa em 1962 e, para brilharem na maior competição do esporte, precisaram passar por duas eliminatórias. Na primeira, da Conmebol, os colombianos ficaram no grupo 2, com Equador (2x0 e 0x0) e Paraguai (1x2 e 2x1). Como a Argentina ganhou a Copa de 1986 e tinha a vaga automática na Copa seguinte, o regulamento das eliminatórias dividia as 9 seleções em 3 grupos, onde só se classificavam os primeiros colocados. Mas o pior dos primeiros colocados teria que disputar a segunda eliminatória, contra o campeão da OFC, um grupo com 3 seleções (Austrália, Nova Zelândia e Israel, o vencedor). Em Barranquila, Usuriaga fez o único gol das eliminatórias. A Colômbia venceu por 1x0 e, no México (o jogo de volta não foi em Israel), o 0x0 levou os colombianos para a Copa de 1990.

Era uma seleção mais folclórica do que habilidosa, mas tinha bons jogadores. A Colômbia caiu no grupo D da Copa, junto com Alemanha, Iugoslávia e Emirados Árabes. No primeiro jogo, 2x0 em cima dos árabes, com Higuita pegando pênalti. No segundo, derrota por 0x1 para os iugoslavos e perigo de eliminação. Contra os alemães (que acabariam ganhando o título), uma bola de Rincón entre as pernas de Bodo Ilgner garantiu o empate em 1x1 e a vaga nas oitavas de final. Contra o surpreendente time de Camarões, a Colômbia fez um jogo duríssimo e o 0x0 se manteve. Na prorrogação, Higuita foi fazer a sua graça costumeira de sair jogando quando foi desarmado por Roger Milla. O "vovô garoto" camaronês fazia o primeiro e, pouco tempo depois, o segundo. O gol de Redin não foi o suficiente e os colombianos perderam por 1x2, sendo eliminados da Copa. Mas a semente estava plantada e, em 1994, tudo seria diferente!

As eliminatórias sulamericanas teriam, novamente, 9 seleções (o Chile estava banido de competições), mas o formato foi diferente. O grupo A teria 4 seleções e o B, 5. No B, se classificavam as duas melhores equipes e, no A, somente a primeira colocada garantia a vaga na Copa. A segunda colocada iria para a repescagem. A Colômbia caiu num grupo difícil, não pelo Paraguai (0x0 e 1x1) nem pelo Peru (1x0 e 4x0), mas pela Argentina. Em Barranquila, 70 mil pessoas vibraram com os gols de Valenciano e Valencia, na vitória por 2x1. Mas o último jogo, aquele que definiria o classificado, seria em Buenos Aires...

Em 5 de setembro de 1993, 53 mil pessoas lotaram o Monumental de Nuñez para assistir ao passeio argentino. A equipe havia vencido a Copa América naquele ano e tinha um timaço. Dias antes do jogo, Maradona lançou um cântico em um programa de TV que dizia "você não pode mudar a História! Argentina classificada, Colômbia fora!". Quem iria pensar que um time com Goycochea, Redondo, Simeone e Batistuta não ganharia dos pobres colombianos? A Argentina começou o jogo em cima, desperdiçando chances. Quando o primeiro gol parecia maduro, a Colômbia igualou as ações e fez o primeiro. Ao final do jogo, ninguém acreditava ao olhar para o placar: Argentina 0x5 Colômbia. Rincón fez dois, Asprilla também e Valencia fechou a fatura. A Colômbia não só iria para a Copa, mas iria como favorita ao título.

A chance de ganhar um título que poderia mudar o país para sempre fez com que os cartéis e os sindicatos pressionarem os jogadores e a comissão técnica. Rumores de ameaças de morte apareceram, mas ninguém confirmou. O fato é que, favoritos, os colombianos sentiram a pressão. Caíram no grupo A da competição, com Romênia, Suíça e os donos da casa, os Estados Unidos.

Na estreia, apesar do favoritismo, a Colômbia estava confusa e perdeu para a Romênia por 1x3. Contra os Estados Unidos, o favoritismo era maior, mas a pressão também foi. Quando Escobar fez um gol contra aos 35 minutos de jogo, tudo desmoronou e a equipe perdeu novamente: 1x2. Na última rodada, a vitória sobre a Suíça (2x0) não foi o suficiente para eliminar a equipe ainda na primeira fase.

Com o rabo entre as pernas, os colombianos voltaram ao país e foi aí que a tragédia aconteceu. Considerado culpado pela eliminação, Andrés Escobar acabou morto em uma suposta briga de bar. Depois, se descobriu que aquilo foi uma briga forjada para assassinar aquele que ficou como culpado pela eliminação. O Escobar mais poderoso jamais perdoou o Escobar que teve a infelicidade de marcar um gol contra. Dali, vieram problemas e mais problemas e o país se afundou numa crise.

Mas não há nada que não possa melhorar algum dia. A paixão pelo futebol e a habilidade de seus jogadores sempre trouxe boas fornadas de jogadores à Colômbia. Após a virada do século, a equipe venceu a Copa América de 2001, o sul americano de juniores (sub 20) em 2005 e 2013 (além do vice em 2015) e seus clubes voltaram a brilhar em competições sulamericanas.

Em 2011, se iniciavam as eliminatórias sulamericanas para a Copa do Mundo de 2014 e, novamente, 9 seleções disputariam em um formato diferente. O Brasil, sede do torneio, já estava na Copa. Então, as outras seleções jogariam em turno e returno, grupo único, com as 4 melhores se classificando para a Copa e a quinta disputando a repescagem. A Colômbia enfrentou Bolívia (2x1 e 5x0), Venezuela (1x1 e 0x1), Argentina (1x2 e 0x0), Peru (1x0 e 2x0), Equador (0x1 e 1x0), Uruguai (4x0 e 0x2), Chile (3x1 e 3x3) e Paraguai (2x0 e 2x1), se classificando para a Copa em segundo lugar.

Na Copa, uma grande geração de jogadores estava pronta para brilhar. Comandados por James Rodriguez, a seleção caiu no grupo C. Estreou fazendo 3x0 na Grécia, depois 2x1 em Costa do Marfim e, por fim, 4x1 no Japão. Três shows e o primeiro lugar com 100% de aproveitamento os levaram às oitavas de final, onde passaram pelo Uruguai (2x0) e avançaram à fase seguinte. Nas quartas de final, o duelo duríssimo contra o Brasil terminou com uma derrota por 1x2 e o choro convulsivo de James Rodriguez ao apito final.

E é aqui que vamos parar a história, mas sabendo que eles também jogaram em 2018. Vamos apresentar as artes da seleção de 94 e da de 2014, falando um pouquinho de cada uma.


A de 1990 é a Colômbia de raiz. Naquela época, o futebol era peladeiro e folclórico. Já começava com o goleiro. Higuita era um show à parte. Ele alternava defesas incríveis com besteiras impressionantes. Reza a lenda que era um zagueiro e, um dia, o goleiro do seu time foi expulso. Higuita foi para o gol e não saiu mais. Então, ele gostava muito de colocar a bola no chão e sair jogando. Sua loucura era tamanha, que o retratei fazendo a famosa Defesa do Escorpião. Em 1995, a Colômbia jogava um amistoso com a Inglaterra, quando a bola foi alçada na direção do gol. Ao invés de agarrar e sair pro jogo, Higuita deu um passo pra frente e, quando a bola passou, ele se jogou numa espécie de "bicicleta invertida", fazendo uma das jogadas mais sensacionais da História do futebol.

Como Higuita gostava de jogar na linha, fiz um goleiro reserva. O genial Faryd Mondragón era o segundo reserva, mas um grande goleiro. Essa equipe tem, ainda, os zagueiros Escobar e Perea, o volante Serna (multicampeão com o Boca Juniors), os meiocampistas Alvarez e Rincón e os atacantes Asprilla e Aristizábal, além é claro, do sensacional Carlos Valderrama. O técnico é Francisco Maturana que, dizem, foi imposição de Pablo Escobar.


A seleção de 2014 é a Colômbia Nutella. Saíram os folclóricos peladeiros e entraram os habilidosos de cabelo estiloso e chuteira colorida. Perdeu a essência do futebol colombiano mas ganhou em habilidade. Uma equipe estrelada, com Ospina, Yepes, Armero, Radamel Falcão Garcia, Quintero, Teo Gutierrez e Cuadrado, mas sem esquecer a classe do nosso ídolo vascaíno Guarin e a genialidade de James Rodriguez, talvez o melhor jogador colombiano de todos os tempos. Tudo sob o comando do argentino José Pekerman.

Então é isso. A história é longa e eu poderia falar muito mais, mas vamos ficando por aqui. Estaria mentindo se dissesse que não sonho com a Colômbia de 1994 para a FIFUBO. Quem sabe ela não aparece em breve por aqui?

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