segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Arte e Botões - Bolívia 1994 - 17/09/2018

O final de semana foi muito apertado e, com a decisão da Copa do Rei no domingo, a seção Arte e Botões ficou prejudicada. Mas nada como uma boa segunda-feira para uma seleção e uma história divertida... então, vamos a ela!

Hoje eu vou falar da seleção boliviana, mas não de qualquer uma. Vou falar daquela que fez história ao se classificar para a Copa do Mundo de 1994 e, em 1997, foi vice campeã da Copa América, ao perder para o Brasil na final. Esta seleção caiu no gosto dos torcedores de tal forma, que é considerada a melhor geração de todos os tempos, superando a campeã da Copa América de 1963.

Em 1993, começavam as eliminatórias sulamericanas para a Copa de 94, que seriam as mais dramáticas e surpreendentes até então já vistas. Antes de começar, já havia polêmica no ar. O Chile foi banido de competições oficiais por cinco anos, graças ao caso da fogueteira e do goleiro Rojas nas eliminatórias para a Copa de 1990, então a edição de 1993 do torneio sulamericano teria apenas nove seleções, divididas em dois grupos, um com quatro e outro com cinco seleções. O continente tinha direito a três vagas e meia. O grupo B, com cinco seleções, classificaria duas equipes, enquanto o grupo A, com quatro seleções, classificaria a primeira colocada e a segunda teria que disputar uma repescagem com o campeão da Oceania.

Com a Argentina no grupo A e Brasil e Uruguai no B, o filé já estava na chapa para aquele banquete sensacional. No grupo A, a Colômbia não deveria ter dificuldades em se classificar para a repescagem, superando Paraguai e Peru. No B, Bolívia, Equador e Venezuela não fariam frente aos dois favoritos. Será? No grupo A a Colômbia aplicou um histórico 5x0 na Argentina, em pleno Monumental de Nuñez, acabando com uma invencibilidade de 31 partidas, classificando os colombianos e empurrando os argentinos para a repescagem. Já o grupo B...

Só para se ter uma ideia, o Brasil estreou empatando com o Equador (0x0) e só não perdeu porque recebeu uma mãozinha do juiz. Enquanto isso, a Bolívia estreava fora de casa, metendo 7x1 na Venezuela. O jogo seguinte seria um duelo entre os dois e uma vitória fácil do Brasil já estava sendo falada. Mas os bolivianos pareciam jogar uma final de Copa do Mundo e dominaram o jogo inteiro. Taffarel pegou um pênalti aos 35 do segundo tempo, mas depois frangou e a Bolívia venceu por 2x0, a primeira derrota do Brasil na história das eliminatórias. Depois disso, os bolivianos enfrentaram Uruguai (3x1), Equador (1x0) e Venezuela (7x0), todos em casa. Em cinco jogos, a Bolívia venceu os cinco e começou a incomodar Brasil e Uruguai, que se vingaram nos jogos em casa. Os brasileiros venceram por 6x0 e os uruguaios, por 2x1. Acontece que a Bolívia fez o dever de casa, venceu todos os jogos e precisava apenas empatar na última rodada, com o Equador, enquanto Brasil e Uruguai faziam um jogo dramático no Maracanã. Enquanto Romário marcava duas vezes nos 2x0 de cá, os bolivianos seguravam o 1x1 lá e iam para a Copa. O Uruguai, por sua vez, ficou de fora.

Na Copa, o craque do time, Etcheverry, estava lesionado. Para piorar, a estreia era contra a atual campeã Alemanha. Etcheverry ficou no banco, entrando só no segundo tempo quando os campeões já venciam por 1x0. Logo no primeiro lance, o camisa 10 boliviano deu um toque sensacional, que seu companheiro desperdiçou. No lance seguinte, pisou no adversário, foi expulso e suspenso pelo resto da Copa. Uma decepção, que acompanhou o resto da seleção, que empatou com a Coreia do Sul (0x0) e perdeu da Espanha (1x3), dando adeus à competição na primeira fase. Ao menos Erwin Sanchez fez história ao marcar o único gol boliviano na Copa.

Falar que esta equipe só foi à Copa graças à altitude é uma injustiça. Uma geração talentosa, para os padrões bolivianos, com atletas que atuavam na Europa e em grandes times sulamericanos, um treinador espanhol. Tudo isso resultou numa seleção que encantou muitos e trouxe esperança ao país mais pobre da América do Sul. Vamos conhecer os principais jogadores deste simpático esquadrão!

Obs: Mais uma vez, vamos misturar quem eram aqueles jogadores realmente com a magia juvenil de quem se encantou por aquele time e criou as mais fantásticas histórias a respeito de seus craques.

Começando pelo gol, Carlos Trucco não era propriamente um paredão. Um pouco baixo (1,80m), caiu nas graças da torcida mesmo sendo argentino de nascimento. Teve uma atuação memorável na estreia na Copa, fechando o gol contra a Alemanha. A defesa atuava praticamente em linha, pois os laterais não apareciam muito no ataque. Com Rimba na lateral direita e Juan Peña na esquerda, a zaga se completava com Sandy e Borja, sendo que Sandy é o principal nome deste setor. Com passagens pelo Valladolid, organizava bem a zaga e se completava com Borja, que atuou a carreira inteira no Bolivar.

No meio de campo, a equipe atuava praticamente com três volantes e um armador, formando um losango com um volante à frente da zaga e os outros dois saindo com a bola, para ajudar na armação. O volante à frente da zaga era Quinteros, praticamente um zagueiro que só sabia destruir. Os outros volantes eram Melgar e Baldivieso. Melgar gostava de chegar à frente e, com isso, chamou a atenção de times grandes do continente, chegando a atuar no Boca Juniors e no River Plate. Baldivieso era mais técnico, bom de passe, organizador de jogadas. Jogou em times do continente e, também, do Japão e do mundo árabe. O armador da equipe merece um parágrafo à parte...

Marco 'El Diablo' Etcheverry, o camisa 10 do time, o maior jogador da história do futebol boliviano. Com boas passagens no futebol da Bolívia, Colômbia e Equador, foi no Colo Colo do Chile que deslanchou de vez para o futebol. O grande nome desta seleção tinha uma fama tão gigantesca, que foi um dos grandes craques contratados para abrilhantar o início da MLS. Foi para o DC United ser o camisa 10 do primeiro campeão da nova liga norte americana. Meia atacante de muita habilidade, era bom no passe, bom driblador, muito bom em faltas, pênaltis e escanteios, chutava bem de longe e fazia muitos, muitos gols. É, talvez, o canhoto que melhor chute de pé direito até hoje, tamanha a facilidade que tinha para pegar na bola.

O ataque tem dois excelentes jogadores, Erwin 'Platini' Sanchez e Alvaro Peña. Erwin Sanchez é conhecido como o 'Platini dos Andes', pelo seu estilo de jogo muito parecido com o do craque francês, guardadas as devidas proporções. Meia atacante de qualidade, tinha velocidade e era incisivo. Do meio de campo para a frente, podia jogar em qualquer posição. Se o colocassem na área, era fatal; se o colocassem para servir o centroavante, este teria muitas bolas para tentar marcar o gol durante o jogo; recuado para a armação, sabia se virar, tanto é que assumiu a função na Copa, quando Etcheverry foi expulso logo na estreia. Atuou no Benfica, Boavista e Estoril, fazendo muito sucesso no futebol português. Alvaro Peña era o centroavante do time e, apesar de não ter tanta habilidade quanto Etcheverry e Sanchez, era o homem-gol daquela equipe, o responsável por mandar a bola para a rede, e o fazia com uma pontaria certeira.

Seguindo as regras da FIFUBO, a equipe apresenta dois reservas, um para a defesa e outro para o ataque. O defensor é Oscar Sanchez, que podia atuar em qualquer posição do meio de campo para trás. Sua polivalência chamou a atenção do futebol argentino, onde atuou por Independiente e Gimnasia de Jujuy. Faleceu em 2007, vítima de câncer. O atacante é William Ramallo, conhecido como o 'Pescador da Área' ou o 'Goleador da América'. Atuou a carreira inteira no futebol boliviano e fez muitos gols. Jogador de velocidade, dono de uma pontaria certeira, era um dos favoritos da torcida.

O treinador é Xabier Azkargorta, um espanhol que caiu de paraquedas na Bolívia, após ter treinador times bons de seu país, como Espanyol, Sevilla e Valladolid. Também treinou a seleção do Chile e outros clubes na América e na Ásia e foi coordenador da base do Real Madrid. Dono de um vistoso bigode, teve a mesma percepção na Bolívia que Wanderley Luxemburgo no Cruzeiro campeão da tríplice coroa. Viu que tinha três jogadores muito bons no ataque, então armou o resto segurando as coisas na defesa para que os três atacantes pudessem se consagrar. Sua equipe joga num 4-4-2 losango defensivo, com os dois laterais, os zagueiros e ao menos um dos volantes fixos na zaga. Os outros dois volantes só têm permissão para ir ao ataque quando a equipe tem a bola. Os únicos que não precisam voltar para marcar são Etcheverry, Erwin Sanchez e Alvaro Peña. A responsabilidade desses é fazer os gols que levam a Bolívia ao sucesso!

A arte está aí e o desejo de fazer este time é grande. A expectativa é de que a Bolívia chegue à FIFUBO entre 2019 e 2020, como parte do projeto Copa do Mundo de chegar a 12 seleções.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

A FIFUBO quer te ouvir!