quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Uma pequena história de futebol de botão

Época de recesso, times voltando de férias e fazendo a pré-temporada para o ano de 2011. Em uma ou duas semanas já teremos o retorno das atividades na FIFUBO, então eu aproveito para contar uma pequena história do futebol de botão, principalmente do que significa o botão para mim.

Comecei a jogar botão com uns 7, 8 anos. Fui pegar o Estrelão do meu irmão para brincar de futebol com os Comandos em Ação, minha avó paterna viu aquilo e disse que ia comprar um time para mim. Fomos à banca de jornal e, vascaíno como sou, resolvi que queria o time do Vasco. Meu irmão levou a seleção brasileira e nós começamos a jogar.

Durante muito tempo eu, meu irmão e um vizinho nosso juntavamos um dinheirinho e iamos na mesma banca comprar times diferentes. Depois, nos reuníamos no Estrelão para disputar partidas.

Só que meu pai, ex praticante dos tempos de garoto, resolveu que eu e meu irmão tinhamos que nos "profissionalizar" e foi a uma loja de esportes tradicional de Niterói-RJ (Superball) e comprou uns botões de acrílico: dois atacantes e dois beques. Ali a gente começou a montar nossos times "definitivos". Sempre peneirando jogadores para nossos times, meu irmão conseguia cada botão lindo para o seu "Achrilix", enquanto eu não tinha o mesmo olho, mas conseguia bons valores para o meu "Imperatriz".

Ocorre que quando minha avó comprou o Vasco para mim, antes desses botões de acrílico, um amigo resolveu me dar um botão que ele achou na rua. Era um botão de camisa azul, com um escudo do Vasco colado em cima. Eu o batizei de William e ele era muito habilidoso. Eu achava engraçado que o jogo era chamado "futebol de botão", mas não tinha botões em campo e sim círculos de acrílico e/ou plástico.

Porém, quando eu ia à casa de minha avó materna e não tinha nada a fazer, eu perguntava a ela se tinha alguns botões para me emprestar. Ela abria a caixa de costura, eu escolhia alguns "jogáveis", pegava quatro pecinhas de dominó, que viravam dois golzinhos, um pedacinho de papel alumínio, amassava e fazia uma bolinha e jogava na escrivaninha de minha avó altas peladas de futebol de botão, botão de verdade.

Durante muito tempo eu me diverti à tarde com essas peladas, até que eu resolvi que podia dar uma chance a alguns daqueles talentos no meu Imperatriz, então fiz uma super peneira com botões da caixa de costura da minha avó (com a sua permissão, claro!) e levei os "aprovados" para assinar contrato com o Imperatriz.

Alguns botões eram muito bons de bola mesmo, mas não dá para comparar um botão feito especialmente para o jogo com um botão cuja função é ornamentar uma camisa, não é? Por esse motivo, embora pudessem jogar, os botões de roupa foram contratados mais para compor o elenco do que para serem protagonistas.

Mas o futebol de botão para mim não se limita a um monte de botões numa mesa, sendo impulsionados por uma palheta. Eu entro em um mundo totalmente diferente quando jogo, onde os botões são protagonistas como jogadores, árbitros, treinadores e também como jornalistas e o Imperatriz estava precisando de um treinador.

Então eu escolhi um daqueles botões da minha avó, um cabeça de área classudo, para ser o treinador da minha equipe. Como homenagem a quem me deu o botão, coloquei o nome de Dircys neste treinador (minha avó chamava-se Dyrse) e ele é, até hoje, o treinador do Imperatriz F.B., campeão dos Torneios Apertura e Clausura 2010 e, por tabela, campeão da Supercopa FIFUBO.

Dircys está no comando do Imperatriz F.B. há uns 22 anos e, dado o seu estilo ofensivo de jogo, seu comando dentro do grupo e seu respeito no clube, jamais será tirado de seu posto enquanto eu estiver vivo.

Recentemente, em um debate sobre um jogo de botão na internet e o jogo de botão verdadeiro, me lembrei dos botões que minha avó me deu. Fui procurar e encontrei uma caixa de metal muito antiga, onde a maioria destes botões está guardada até hoje. Muitos nem deslizam, mas ficaram como recordação. Ao mostrar para minha mãe, ela se emocionou ao ver a caixa e os botões, lembrando-se de muitos daqueles ali presentes como "membros" da caixa de costura da mãe.

Não sei se minha avó saberá, de onde estiver, que o treinador de minha equipe de botões é batizado em sua homenagem. Mas saiba que muito do seu estilo foi incorporado por este botão vencedor e um pedaço de sua alma ainda nos alegra, nas mesas de botão mundo a fora.

4 comentários:

  1. Não sou lá uma pessoa emotiva, mas é impossível não me emocionar lendo um relato como este, principalmente por ser praticante de futebol de botão há 30 anos.
    Ao ler este texto, as lembranças das muitas situações relacionadas ao futebol de botão, nesses 30 anos, brotaram em minha mente e me proporcionaram uma agradável viagem a um passado muito querido.
    Parabéns!

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  2. Obrigada, João! Sua avó deve estar vendo de onde está e se divertindo com as peripércias
    do seu treinador veterano!
    Beijo

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  3. Muito legal seu relato!
    Lembro bem dessa caixinha de metal...
    Beijo!

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  4. mapvalente, foi exatamente isso que me fez escrever esta história. Uma viagem a um passado tão gostoso, que nunca sai de minha memória. Muito obrigado pelo seu comentário!

    Bû, espero que ela esteja vendo mesmo, pois o veterano treinador é um campeão nato. Seus conceitos lembram muito os da vó. Agradeço também a você por ter comentado a minha história.

    Então, tia Nonoia, quando a gente se encontrar eu mostro a caixinha de metal e os botões que tantas peladas jogaram naquela escrivaninha no quarto das crianças. Se bobear, ainda batem um bolão! Muito obrigado pelo comentário!

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