quarta-feira, 22 de julho de 2020

Vuelta a España 2020

Sexta-feira, 17 de julho de 2020. Exatamente um mês após o final do Tour de France, os ciclistas entravam em Madrid para a derradeira etapa da Vuelta a España 2020, a última das três Grandes Voltas do ciclismo mundial. Mais uma vez, os atletas fizeram história e nós vamos conferir, etapa a etapa, por que a Vuelta foi tão fantástica.


1ª Etapa

No dia primeiro de julho de 2020, se iniciava a última das três Grandes Voltas do ciclismo mundial. A Vuelta a España começou com um contra relógio de 20 quilômetros, em um dia nublado e de vento muito forte.

As condições climáticas não foram favoráveis aos ciclistas, o que fez com que muitos corressem de forma mais cautelosa. Os primeiros colocados, no entanto, garantiram a emoção. A vitória coube ao italiano Vincenzo Nibali (Astana). Em segundo lugar, chegou o inglês Bradley Wiggins (Sky), conseguindo seu primeiro pódio na LMC. Em terceiro, o campeão da Vuelta em 2019, o italiano Damiano Cunego (Lampre). Outra boa surpresa foi o quarto lugar de Mathieu Van Der Poel (Corendon Circus). Medalhista de prata no contra relógio nas Olimpíadas, o holandês mostra que tem talento sim para brigar por grandes vitórias.

Com a vitória na primeira etapa, o Tubarão de Messina Vincenzo Nibali é o primeiro a vestir a camisa vermelha, de líder da Vuelta. No contra relógio, não há abandonos.

2ª Etapa

A primeira corrida de linha da Vuelta também trouxe uma solitária meta volante após a metade da prova. Uma etapa quase plana (com exceção de uma subida de 5% justo na meta volante), com chegada em sprint. Um dia parcialmente nublado, mas sem vento nem ameaça de chuva, era promessa de refresco aos atletas.

O que prometia ser uma boa prova acabou se tornando uma das piores - talvez a pior - corridas do ano. Quedas o tempo inteiro, nenhuma fuga se formando, ninguém se esforçando. A decepção das decepções veio cedo nesta Vuelta, quando o campeão de 2019, o italiano Damiano Cunego, sofreu uma queda no início e nem voltou para a corrida. Foi o primeiro abandono da edição deste ano. A prova ainda reservaria mais um abandono, com Primoz Roglic. André Greipel e Marcel Kittel também estiveram a ponto de abandonar, mas resistiram bravamente e concluíram a etapa.

Mesmo a pior das corridas tem que ter um vencedor. E, ao menos nisso, tivemos emoção. Com a linha de chegada se aproximando, dois ciclistas se desgarraram do grupo e, mais atrás, outros dois também conseguiram o destaque. A vitória ficou com o inglês Chris Froome (Sky), que superou o francês Sylvain Chavanel (Quickstep), que chegou em segundo. A outra disputa emocionante foi pela terceira posição e quem se deu bem foi o italiano Danilo Di Luca (Liquigás), que derrotou o eslovaco Peter Sagan (Bora).

Com a vitória na etapa, há um triplo empate na liderança, mas a camisa vermelha ficou com dois ciclistas. Vincenzo Nibali e Chris Froome dividem a liderança pelo critério de desempate. Os dois têm 9 pontos, assim como Sylvain Chavanel. Mas, enquanto aqueles ganharam uma etapa, Chavanel não tem vitória.

3ª Etapa

Etapa parecida com a anterior, plana no início e com uma subida de 5% após a metade da prova. As condições climáticas também eram parecidas, com um dia nublado, frio e sem vento.

Uma grande queda logo no início levou vários ciclistas ao chão e obrigou outros tantos a parar, formando um grande buraco no pelotão. Todos os atletas levantaram e continuaram a prova, mas alguns o fizeram com muitas dores. Parte do pelotão reduziu, para reclipar com os atrasados, mas outra parte acelerou para tentar uma fuga.

Após o pelotão se reagrupar, os atletas baixaram o ritmo e fizeram um passeio ciclístico parecido com o anterior. Só que, desta vez, uma fuga se formou e, quando o pelotão percebeu, já era tarde. O alemão Marcel Kittel (Katusha) saiu a solo, imprimindo um ritmo muito forte, e um grupo de escapados se organizou mais atrás, tentando alcançá-lo.

Não deu. Kittel venceu com tranquilidade e deixou os dois lugares restantes no pódio para serem disputados pelos demais. Mostrando que era uma prova para sprinters, uma grande batalha aconteceu, com velocistas pedalando forte na linha de chegada.

O holandês Mathieu Van Der Poel (Corendon Circus) surpreendeu novamente e cruzou em segundo, mostrando mais uma vez o seu talento. Mas a grande surpresa da corrida foi o belga Remco Evenepoel (Quickstep). Bem posicionado na fuga, o estreante se poupou no momento exato e, mesmo disputando contra André Greipel (que é sprinter), soube aproveitar o cansaço do alemão para batê-lo, conquistar o terceiro lugar e fazer o seu primeiro pódio na LMC. Finalizando as surpresas entre os estreantes, o inglês Bradley Wiggins (Sky) chegou em quinto.

Com a vitória não só na etapa mas também nas metas volante, Marcel Kittel veste a camisa vermelha e é o novo líder da Vuelta, em uma corrida sem abandonos.

4ª Etapa

A quarta etapa trazia duas subidas, com 5% de inclinação. Mas era bem tranquila na maior parte e teria chegada em sprint. A prova foi disputada em um lindo dia de sol, com um vento quente passando de quando em quando.

Uma grande queda logo no início da prova levou vários ciclistas ao chão e acabou custando a Vuelta a Tom Dumoulin, que abandonou logo no início. Na descida entre as duas montanhas, no meio do percurso, também tivemos várias quedas e quem abandonou foram Frank Schleck e Rafael Andriato.

Fora isso, o que se viu foi uma fuga formada por alguns ciclistas no início e o pelotão parecendo deixar os fugitivos disputarem a vitória. Mas alguns ciclistas do pelotão andaram forte e vimos histórias incríveis de superação e, também, decepções nesta etapa.

A primeira das belas histórias desta Vuelta foi contada por Oscar Freire. O espanhol andou sempre na fuga, ganhou as três metas volante e conquistou a vitória da etapa, levando o público local ao delírio na mesma etapa que venceu, em 2019.

Em segundo, veio a história de superação. Envolvido no acidente no início da corrida, o holandês Bauke Mollema voltou aos pedais, andou forte e fez a dobradinha da Rabobank com Oscar Freire. Em terceiro, o brasileiro Murilo Fischer (Française de Jeux). Outra bela história foi a de Bradley Wiggins. O inglês da Sky também chegou a ter uma queda, fez um esforço monumental e conseguiu um quinto lugar.

Agora, a decepção. Surpresa na corrida, o italiano Filippo Pozzato (Acqua & Sapone) andou sempre na fuga, acompanhando Oscar Freire. Ele chegou em segundo nas três metas volante, mas cansou no final da prova, foi perdendo posições e ainda se envolveu em mais um acidente na linha de chegada, cruzando apenas em décimo quarto lugar.

Por falar em acidentes, foram dois no final da prova. No primeiro, Fabio Aru foi ao chão, mas conseguiu chegar em quarto lugar. O TCB foi acionado para analisar as manobras justamente do segundo e terceiro colocados e os puniu, com a perda de 3 pontos de esforço na etapa seguinte, mantendo assim as posições deles.

O outro acidente envolveu Mathieu Van Der Poel, que acabaria chegando em décimo primeiro lugar. O Tribunal foi acionado e, escudado pelos problemas ocorridos no Tour de France, resolveu dar uma punição branda aos envolvidos. Um deles era o espanhol Oscar Pereiro Sio e uma eliminação ocasionaria revolta entre os locais. Assim, o Tribunal decidiu puni-lo, junto com o outro envolvido no acidente (Filippo Pozzato) com a eliminação da corrida. Oscar Pereiro Sio havia cruzado em décimo e Pozzato, em décimo quarto. Com a punição, foram para a trigésima e trigésima primeira posições, respectivamente.

Com a vitória na etapa e nas metas volante, Oscar Freire assume a camisa vermelha. O antigo líder, Marcel Kittel, teve duas quedas durante a prova, competiu com dores e chegou apenas em vigésimo nono. A Vuelta segue, agora com 31 ciclistas.

5ª Etapa

Uma etapa quase que toda plana, com apenas uma inclinação de 5% antes da chegada em sprint, era promessa de tranquilidade para os ciclistas. A corrida se daria em um lindo dia de céu azul e temperatura agradável.

A corrida teve dois grupos bem definidos. Um, pequeno, era formado pelos ciclistas que estavam na fuga e alguns do pelotão, que ainda lutavam para alcançar os escapados. O outro, bem maior, era composto por atletas que pareciam estar em um passeio ciclístico. Em ritmo lento, não ajudavam o pelotão no revezamento, deixando claro que a vitória seria disputada pela fuga.

Teve outro fator que ajudou em muito a fuga, que foi a montanha antes da chegada em sprint. Ali, os ciclistas diminuíram mais ainda o ritmo e somente um deles se manteve em alta. Com a linha de chegada se aproximando, o inglês Mark Cavendish (T-Mobile) se viu isolado, tanto que nem precisou sprintar para vencer. Outro que veio sozinho foi o espanhol Alberto Contador (Astana), que cruzou em segundo e fez a alegria dos torcedores locais. O resto da fuga veio em disparada, para a disputa do terceiro lugar. Quem se deu bem nesta foi o belga Philippe Gilbert (Lotto Belisol), que fez um ótimo trabalho durante a prova inteira e conseguiu alcançar o pódio.

O resto veio em ritmo muito pequeno, sem disputa por posições. Mesmo assim, em uma prova sem abandonos, o espanhol Oscar Freire conseguiu se manter com a camisa vermelha de líder, a despeito da vigésima primeira colocação.

6ª Etapa

A última etapa antes das montanhas já começava a trazer alguma inclinação, para os ciclistas se aclimatarem ao que estava por vir. Ambas no final da prova, com 6 e 5% de inclinação, iriam separar os atletas antes da chegada em sprint. A prova seria disputada em um lindo dia de céu azul e temperatura agradável.

O pelotão andou junto a prova inteira, não deixando uma fuga se formar. Grande parte deste trabalho foi atribuído às equipes AG2R e Quickstep, que ditaram um ritmo forte e fizeram com que os outros ciclistas trabalhassem forte.

Próximo do final, o colombiano Fernando Gaviria começou a tentar uma fuga e não foi acompanhado. Pôde, inclusive, administrar no final e vencer pela primeira vez na Vuelta. Em segundo, próximo a ele, chegou o francês Julian Alaphilippe, que formou a dobradinha da Quickstep. Em terceiro chegou o holandês Mathieu Van Der Poel (Corendon Circus), que mostrou mais uma vez todo o seu talento e voltou ao pódio.

Oscar Freire chegou novamente em vigésimo primeiro lugar, mas conseguiu manter a camisa vermelha de líder. Só que vê Van Der Poel encostar e, se não começar a fazer alguma coisa, pode perder a camisa em breve. Peter Sagan se envolveu em um acidente e, com muitas dores, abandonou e deixou a Vuelta com 30 ciclistas.

7ª Etapa

As etapas de montanha chegaram, com uma corrida tranquila de início. As subidas ficavam entre 5 e 7%, sendo o período mais difícil o de Puerto de Portillo de las Batuecas, antes da metade da prova. Depois disso, ficava em 5 e 6% até a chegada, no Alto de la Covatilla, com 8% de inclinação. A prova seria disputada em um dia abafado, de muito calor

A primeira das montanhas trouxe muitas dificuldades aos ciclistas. O pelotão andou junto a prova inteira, se ajudando para superar as dificuldades do terreno inclinado. Romain Bardet até tentou imprimir um ritmo mais forte, fazer uma fuga, mas o revezamento do pelotão sempre o alcançava.

Com a linha de chegada se aproximando, o pelotão juntou e todos em condições de vencer, teríamos emoção para conhecer o ganhador da etapa. E a emoção foi maior ainda quando Bradley Wiggins acelerou. O inglês da Sky cruzou a linha de chegada comemorando muito sua primeira vitória na LMC. Completando a dobradinha britânica, Mark Cavendish (T-Mobile) conseguiu um “sprint pra cima” e foi o segundo. O esforço na frente da corrida cobrou na hora H e o francês Romain Bardet (AG2R) só conseguiu cruzar em terceiro. Os torcedores ainda tiveram motivos para comemorar com o quarto lugar de Alberto Contador (Astana).

As lesões do Tour de France voltaram a assombrar Tom Boonen. O esforço já seria hercúleo no plano; nas montanhas então, pior. Assim, o belga da Quickstep abandona a Vuelta e deixa a competição com 29 ciclistas.

O segundo lugar somado ao fato de Oscar Freire correr muito mal novamente (chegou em vigésimo sétimo) deu a Mark Cavendish a camisa vermelha. Ele é o novo líder da prova. Bradley Wiggins venceu a corrida, pontuou em metas volante e vestiu a camisa azul com bolinhas, de líder de montanha.

8ª Etapa

Ainda nas montanhas, os ciclistas encarariam uma etapa com inclinação entre 6 e 7%, até passarem pelo Puerto de la Rasa, com 8% de inclinação, onde as coisas piorariam até a chegada, no Alto de Moncalvillo, com 10% de inclinação. A corrida seria disputada em um dia de muito calor, dificultando bastante a vida dos atletas.

Foi uma prova de altíssimo nível, com os ciclistas andando em ritmo forte e se revezando bem na cabeça do pelotão e quase nenhuma queda ao longo do percurso. Uma pequena fuga foi formada por Marcel Kittel, Fernando Gaviria e Danilo Di Luca. Os três ganharam os pontos em todas as metas volante, mas o pelotão os acompanhava de perto, de modo que a chegada no Alto de Moncalvillo seria com a maioria dos ciclistas juntos.

Mesmo assim, as características de Danilo Di Luca eram perfeitas para o tipo de prova. O italiano da Liquigás venceu, com o francês Julian Alaphilippe (Quickstep) na segunda posição. Marcel Kittel não aguentou o ritmo das montanhas para disputar a vitória, mas o alemão da Katusha conseguiu a terceira posição e comemorou muito, pois não é o seu tipo de terreno.

A comemoração foi dupla para Kittel, pois os pontos foram suficientes para que ele voltasse a vestir a camisa vermelha, de líder. A vitória na etapa rendeu a Danilo Di Luca a camisa azul com bolinhas, de líder de montanha.

Remco Evenepoel sofreu uma queda justo no único trecho plano da prova e, com muitas dores para continuar subindo, abandonou a Vuelta, que agora fica com 28 ciclistas ainda na disputa.

9ª Etapa

Aqui, as montanhas ficavam ainda piores, com inclinação de 7 a 8% até a metade da prova, depois uma passagem pelo Alto de la Mozqueta, com 9% de inclinação e chegada ao Alto de L’Angliru, com 11% de inclinação.

Não bastasse a dureza da etapa, uma chuva forte e vento frio assolaram os ciclistas durante todo o percurso, favorecendo as quedas. E elas foram muitas! Durante a prova, era comum ver um ciclista no chão, mas nenhum deles abandonou. Apesar do tempo dificílimo, todos cruzaram a linha de chegada.

Curiosamente, os atletas imprimiram um ritmo muito veloz e, com isso, a prova foi de altíssimo nível. A linha de chegada reservaria fortes emoções. E quem venceu, para delírio do público, foi o espanhol Alberto Contador (Astana). Em segundo, muito emocionado, chegou o italiano Filippo Pozzato, dando à Acqua & Sapone o seu primeiro pódio na LMC. E, mais emocionante ainda, foi o terceiro lugar de Oscar Pereiro Sio (Caisse D’Epargne), dando à Espanha a sua primeira dobradinha no pódio da Vuelta. Os espanhóis ainda tiveram motivos para aplaudir o oitavo lugar de Oscar Freire. Apesar de sprinter, o espanhol da Rabobank foi muito bem na dura corrida.

Mas as emoções não pararam por aí. Com a vitória, o nono lugar de Marcel Kittel e o décimo quarto de Danilo Di Luca, Alberto Contador vai para a liderança tanto da Vuelta quanto da competição de montanha, acumulando as camisas vermelha e azul de bolinhas.

10ª Etapa

A última etapa de montanha era a pior de todas. Chamada Etapa Rainha, não tinha uma subida com menos de 9%. Depois da metade (o único trecho plano), eles passariam pelo Alto de la Cobertoria (10%), Puerto de San Lorenzo (11%) e chegada no Alto de la Farrapona (12%), a pior subida desta Vuelta.

A centésima prova da LMC em 2020 seria disputada em mais um dia muito frio e chuvoso, com alguns trechos com uma chuva bem volumosa. Com tanta adversidade, era de se esperar que os ciclistas tivessem dificuldades, mas isso não impediu a prova de ser altamente técnica.

Os ciclistas andaram juntos a maior parte do tempo. Uma pequena fuga se formou no início, mas logo foi controlada e o pelotão andou com alguns cortes de vez em quando. Desta forma, o final da prova seria fantástico, com os atletas juntos como se fossem chegar em sprint. Só para se ter uma ideia de como a etapa foi disputada, no último trecho da prova quem liderava era Bradley Wiggins e ele chegou em oitavo. E, mais curiosamente, o décimo colocado na parte final venceria.

O norueguês Thor Hushovd (Credite Agricole) conseguiu um espetacular “sprint pra cima” e bateu seus adversários para vencer a corrida de número 100 da LMC em 2020. Em segundo lugar, o espanhol Oscar Pereiro Sio (Caisse D’Epargne) fez novamente a alegria dos torcedores locais. E, em terceiro, o francês Sylvain Chavanel (Quickstep) chegou após um esforço hercúleo no Alto de la Farrapona.

O espanhol Alberto Contador (Astana) chegou apenas em vigésimo lugar, superando uma queda e cruzando a linha final com muitas dores. Mas se manteve tanto com a camisa vermelha de líder quanto com a azul de bolinhas, de líder de montanha. O altíssimo nível da etapa se refletiu não só no esforço dos ciclistas em superarem uma prova difícil, mas também no baixíssimo número de quedas. Ninguém abandonou.

11ª Etapa

Superadas as montanhas, os sobreviventes tinham uma etapa com duas subidas ainda, sendo uma no início e outra após a metade, mas ambas com apenas 5% de inclinação e as duas últimas metas volantes da Vuelta 2020. A chegada seria em sprint em um dia muito frio e nublado, com rajadas de vento em alguns trechos.

Normalmente, os ciclistas relaxam após as etapas de montanha, ainda mais com o clima frio como estava. Mas não foi isso que aconteceu. Desde o início, os atletas impuseram um ritmo forte e não deixaram nenhuma fuga se formar. Mais uma vez, os espanhóis viram uma prova de altíssimo nível técnico nesta Vuelta.

Com o pelotão formado, sem nenhuma fuga ou grupeto, tudo indicava para uma chegada em sprint, mas os velocistas estavam muito atrás, então coube aos corredores por etapas decidirem a disputa. O americano Lance Armstrong (USPS) foi o mais veloz e venceu. Os dois ciclistas da Rabobank, Oscar Freire e Bauke Mollema, vinham logo atrás e, como Freire era o sprinter e espanhol, restaria a Mollema embalá-lo e deixá-lo passar à frente. Mas o holandês continuou fazendo força e, apesar de Freire jogar de lado e tentar passar, foi Mollema quem chegou em segundo, com Freire ficando na terceira posição.

O torcedor espanhol não perdoou e vaiou Mollema no pódio, principalmente porque Oscar Freire tinha deixado-o passar na última etapa do Tour de France 2019, quando já era campeão e queria premiar o companheiro de equipe por todo o esforço realizado naquela competição.


As camisas vermelha (de líder) e azul com bolinhas (de melhor montanhista) permaneceram com Alberto Contador, a despeito dele chegar na vigésima sétima e penúltima posição. Nenhum ciclista abandonou.

12ª Etapa

Em 17 de julho de 2020, uma sexta-feira fria, de céu parcialmente nublado e vento forte, a Vuelta a España 2020 chegava ao seu final. A última etapa seria um circuito dentro de Madrid, com 6 voltas e totalmente plano, preparando uma chegada em sprint, com grande festa para o encerramento da última das 3 Grandes Voltas do ciclismo mundial.


O pelotão partindo pelas ruas de Madrid.
28 ciclistas chegaram à capital espanhola para a derradeira etapa, com 11 ainda na disputa do título, dependendo das mais variadas combinações de resultados. A maioria fez uma grande festa, andando em ritmo diminuto e descansando do ritmo altíssimo que esta Vuelta apresentou. Um pequeno grupo, no entanto, ainda tinha um título a disputar e, por isso, imprimiu um ritmo forte. Logo ficou claro que a fuga disputaria a vitória - e o título.

Se a Vuelta a España foi uma competição de altíssimo nível e nenhuma polêmica, estava claro que a polêmica apareceria na última etapa. Com a fuga se aproximando da linha de chegada, 3 ciclistas que estavam nela ainda tinham chances de título. Bradley Wiggins vinha um pouco à frente dos demais, com Alberto Contador e Marcel Kittel lado a lado, disputando posição. É lógico que, por ser sprinter, Kittel tinha muito mais vantagem, mas Contador realmente deu a vida para acompanhar os escapados e não perder a chance de ser campeão em casa. A disputa por posições entre eles acabou levando Alberto Contador ao chão e El Pistolero ficou para trás, cruzando apenas em sétimo lugar, fora da zona de pontuação.

Bradley Wiggins não quis saber de briga, pedalou como se sua vida dependesse disso e venceu. O inglês da Sky cruzou a linha de chegada muito à frente dos demais. Na disputa pelo segundo lugar, o francês Julian Alaphilippe (Quickstep) chegou em segundo e o alemão Marcel Kittel (Katusha), em terceiro. Ao ver Contador indo ao chão e Kittel arrancando para o título, os torcedores começaram a vaiar e se exaltar, trazendo forte tensão entre os ciclistas, que temiam uma revolta popular.

O TCB foi acionado e decidiu que Kittel foi culpado pelo acidente de Contador. Assim, o Tribunal puniu o ciclista alemão com a desclassificação da etapa. De terceiro, Kittel foi para o vigésimo oitavo e último lugar. O ciclista de Luxemburgo, Andy Schleck (Saxo Bank) herdou a terceira posição, em uma prova sem abandonos.

O pódio da última etapa da Vuelta a España 2020. No alto, com o troféu de vencedor, o inglês Bradley Wiggins (Sky). Um pouco mais abaixo, o francês Julian Alaphilippe (Quickstep), segundo colocado. Mais abaixo, o ciclista de Luxemburgo Andy Schleck (Saxo Bank), terceiro colocado.

BRADLEY WIGGINS CAMPEÃO DA VUELTA A ESPAÑA 2020

Uma reviravolta incrível deu a Wiggins seu primeiro título na LMC - e justamente em uma das três Grandes Voltas. O estreante ciclista inglês começou sua caminhada com o segundo lugar no contra relógio, venceu sua primeira corrida na LMC na sétima etapa e, com uma prova quase perfeita, venceu a última etapa sem dar chances para os rivais. Alheio à polêmica do acidente de Contador, Wiggins cruzou a linha de chegada dando a sua vida e, às lágrimas, conquistou o título.

O espanhol Alberto Contador (Astana), campeão de montanha da Vuelta a España 2020, no pódio após receber seu prêmio.
A queda nas cercanias da linha de chegada foi um duro golpe para Alberto Contador. Perder o título por apenas 3 pontos foi o que mais doeu. Mas, El Pistolero tem o consolo de ter saído da Vuelta como campeão de montanha, um justo prêmio aos seus brilhantes esforços nas etapas mais difíceis.

O pódio da Vuelta a España 2020. No centro, com os troféus de campeão da Vuelta e vencedor da última etapa, o inglês Bradley Wiggins (Sky). Do lado esquerdo da foto, o espanhol Alberto Contador (Astana), vice campeão. Do outro lado, o holandês Bauke Mollema (Rabobank), terceiro colocado.
Bradley Wiggins conquista a Vuelta a España, com Alberto Contador em segundo e Bauke Mollema em terceiro. Havia um temor grande de que o pódio fosse alvo de vaias ou até de invasões, mas o público se acalmou ao ver três coisas: a rápida e justa ação do TCB, o título de montanha de Contador e a vitória espetacular de Wiggins, que não teve absolutamente nada a ver com o acidente. Wiggins jamais vestiu a camisa vermelha (somente a azul com bolinhas), reservando-a para o melhor momento - justamente a comemoração do título. Contador, que vinha com a liderança desde a nona etapa, foi discreto nas corridas seguintes e perdeu-a na prova derradeira. Vaiado ao não abrir para Oscar Freire na décima primeira etapa, Bauke Mollema foi perdoado e aplaudido pelo público espanhol. Mas a grande festa foi mesmo para Alberto Contador, pelo vice campeonato em casa.

Se o Tour de France deixou um sentimento de frustração nos torcedores, a Vuelta a España foi sensacional. Disparada a melhor das três Grandes Voltas em 2020, teve intensa disputa pelo título e oito trocas de liderança. O fato de vários ciclistas chegarem à última etapa com chances de título só prova como foi bem disputada a edição deste ano, com corridas técnicas, ritmo elevadíssimo e muita emoção na linha de chegada.

NOTAS RÁPIDAS
  • Bradley Wiggins foi o maior vencedor desta Vuelta, com 2 vitórias. O equilíbrio foi tão grande, que ele foi o único a vencer duas vezes. Outros 10 ciclistas venceram uma vez, cada.
  • Bradley Wiggins e Julian Alaphilippe foram os que mais subiram ao pódio, 3 vezes cada um. No total, 23 ciclistas subiram ao pódio.
  • 19 equipes subiram ao pódio, sendo que 9 conseguiram ao menos uma vitória. A maior vencedora foi a Sky, com 3 triunfos, enquanto a Quickstep foi a que mais subiu ao pódio, com 7.
  • 12 países subiram ao pódio, sendo que 7 viram sua bandeira tremular no lugar mais alto. A Inglaterra teve o maior número de vitórias, com 3, dividindo o maior número de pódios com a Espanha e a França. Cada um desses países subiu ao pódio 6 vezes.
  • Em três etapas, tivemos dobradinha no pódio: Na primeira, a festa foi italiana (1º e 3º); na sétima, quem celebrou foram os ingleses (1º e 2º); e na nona, a festa foi caseira, com os espanhóis chegando em 1º e 3º.
  • Por falar nos espanhóis, eles fizeram a festa dos torcedores locais. Oscar Freire e Alberto Contador venceram etapas e Oscar Pereiro Sio subiu ao pódio em duas ocasiões, ou seja, os três ciclistas locais fizeram pódio nesta edição da Vuelta. Oscar Freire e Alberto Contador vestiram a camisa vermelha de líder por três etapas consecutivas, cada. Contador foi o vice campeão do geral e campeão de montanha, levando os torcedores ao delírio.
  • 8 ciclistas abandonaram a Vuelta e nenhum foi eliminado. O nível foi tão alto que 28 atletas completaram a Vuelta. Só para se ter uma ideia, no ano passado foram 11 abandonos e 21 chegando ao final da competição.
  • A Vuelta a España foi tão boa, que não tivemos uma grande decepção. Pode-se dizer que o abandono do campeão em 2019, Damiano Cunego, logo na segunda etapa, seria uma decepção. Mas o nível da competição foi tão alto, que aquele fato logo foi esquecido.
  • O TCB também se recuperou. Depois de uma polêmica enorme no Tour de France, o Tribunal parece ter entendido o seu papel e não atrapalhou o espetáculo. Aplicou punições em 3 etapas, sendo duas com desclassificação de etapa (o ciclista perde a posição e vai para o último lugar) e uma outra com perda de pontos de esforço. Ninguém foi eliminado da Vuelta pelo Tribunal, que ainda agiu rápido para evitar uma revolta popular na última etapa.
  • Danilo Di Luca mantém a liderança do ranking, com 204 pontos. Em segundo vem Tom Boonen, mesmo depois de abandonar a Vuelta, com 161 pontos. Em terceiro, Marcel Kittel, com 160.
  • Superadas as três Grandes Voltas, os ciclistas descansam e se preparam para a última das Clássicas Monumento do ano, a Lombardia! Conhecida como Clássica das Folhas Caídas, promete trazer muitas emoções para os fãs deste fabuloso esporte.


O ciclista Bradley Wiggins com os troféus da Vuelta a España 2020 e da vitória na última etapa.

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