O primeiro trimestre do ano chega ao fim, recheado de competições de ciclismo, o mês de março não foi diferente. Vamos ver o que agitou o mundo das bicicletas na LMC.
PROTOUR DO BENELUX
O primeiro dia do mês
já trouxe um contra relógio na Bélgica, dando início ao Protour do Benelux. A
edição deste ano começa na Bélgica, tem suas etapas de montanha na Holanda e
coroa o campeão em Luxemburgo. Tal honraria se deve ao fato de Frank Schleck ter
levado o título em 2023 já que, pelo regulamento da competição, o campeão de um
dos três países leva o desfecho da competição ao seu país no ano seguinte. O
Protour do Benelux é uma competição voltada para os ciclistas de clássicas que
conseguirem manter uma regularidade, dado o seu traçado passar por muitos
locais onde acontece esse tipo de prova, além dos montanhistas.
O contra relógio foi
disputado em um dia de calor e teve um nível muito bom. Quem venceu foi o
francês Romain Bardet (AG2R), que travou uma batalha acirrada com o segundo
colocado, o espanhol Oscar Pereiro Sio (Caisse D’Epargne), e o terceiro, o
alemão Marcel Kittel (Katusha).
Na segunda-feira, 06,
os ciclistas largaram de Luxemburgo em um dia parcialmente nublado mas muito
quente para a última etapa do Protour do Benelux. Uma etapa quase
inteiramente plana, à exceção de uma montanha de 8% de inclinação após a
metade da prova, onde estava a última meta volante da edição deste ano. Quatro
ciclistas ainda estavam na disputa. Para Danilo Di Luca e Bauke Mollema, o
título só viria em caso de vitória, mas Julian Alaphilippe não poderia chegar
entre os seis primeiros. Remco Evenepoel também teria que vencer, mas
Alaphilippe não poderia chegar entre os quatro primeiros. Como se vê, o título
estava praticamente sentenciado para o francês da Quickstep.
A prova foi de
altíssimo nível, refletindo o que aconteceu durante todo o Protour. Os
ciclistas andaram rápido, querendo disputar a vitória, o que dificultou muito a
vida dos que disputavam o título. O único que fez um esforço hercúleo para
conseguir a posição necessária para o título foi Remco Evenepoel. Mas o belga
da Quickstep só conseguiu um terceiro lugar, atrás do vencedor, o italiano
Michele Scarponi (Acqua & Sapone), e do segundo colocado, o brasileiro
Luciano Pagliarini (Saunier Duval). Mesmo assim, Remco foi aplaudido de pé
pelos presentes e leva para a Bélgica as duas últimas etapas em 2024.
Além do terceiro lugar, o belga da Quickstep foi muito festejado no pódio, por ter conquistado o título de montanha. Foi seu primeiro título na temporada e o sexto na LMC. Mas quem comemorou mesmo foi o francês Julian Alaphilippe (Quickstep), que chegou em 29º e se sagrou campeão do Protour do Benelux 2023. Campeão de montanha em 2020 e 2021, Alaphilippe passou o ano de 2022 sem conquistar nenhum título e, mesmo assim, se sagrou campeão da Liga. Aqui, conquista seu primeiro título no ano e o décimo na LMC.
Após o Protour do Benelux, Julian Alaphilippe se junta a Tom Dumoulin na liderança do ranking da LMC, com 34 pontos cada.
Na quarta-feira, 08,
Philippe Gilbert se juntava aos ciclistas independentes em Flandres, na
Bélgica, para a E3 Harelbeke. Uma das famosas clássicas belgas, disputada em
um traçado muito difícil, com subidas de 10 e 11% de inclinação e trechos em
pavê. O Dia Internacional da Mulher trouxe muito calor para os ciclistas e uma
prova incrível, no melhor estilo das clássicas belgas. Tentativas de ataque o
tempo todo, o pavê e as montanhas faziam os ciclistas trocarem de posição o
tempo todo e uma chegada eletrizante em sprint, com 6 atletas na disputa.
No dia 09, os
ciclistas se encontraram na Toscana, região central da Itália, para a primeira
clássica do calendário. A Strade Bianchi é conhecida pelos seus trechos em
sterrato e, nesse ano, seriam muitas passagens por este tipo de piso e apenas
uma subida, em 7%. Para piorar, um céu sem nenhuma nuvem e um calor inclemente.
A edição deste ano
fez jus à fama de dureza da prova. Muitos punctures e quedas durante o percurso
(o que levou ao abandono de Bradley Wiggins), os ciclistas sofrendo no calor e
no sterrato e uma chegada eletrizante ao final, com quatro ciclistas no sprint
final.
A vitória coube ao
esloveno Primoz Roglic (Imperatriz), com o luxemburguês Frank Schleck (Saxo
Bank) em segundo e o italiano Michele Scarponi (Lampre) em terceiro. Foi o
primeiro título de Roglic no ano e na Strade Bianchi e seu oitavo na LMC.
No dia 10, Bradley
Wiggins se juntou aos ciclistas independente em Laigueglia (ou Ligúria), no
norte da Itália, para a disputa do Giro de Laigueglia 2023. A prova tinha uma
difícil subida de 8% no início e, após a metade, um circuito por onde os
ciclistas teriam que passar duas vezes por uma subida mais difícil ainda, em
9%, antes da chegada em sprint.
No dia 11, o extremo
sul de Portugal foi sacudido pela chegada dos maiores ciclistas do mundo para a
Volta Ciclística ao Algarve. A competição passa por belíssimas paisagens, com
montanhas em todas as etapas e algumas até bem agudas. Por esse motivo, são
favoritos aqui os ciclistas por etapas e os montanhistas. Neste ano, os
campeões do geral e de montanha seriam conhecidos somente na última etapa.
O contra relógio que deu início à competição ocorreu em um dia nublado, mas quente. E foi a pior prova do ano até aqui, dado o baixíssimo nível apresentado pelos atletas. Ninguém fez o tempo mínimo e o último colocado, André Greipel, fez o pior contra relógio da História da LMC, estando a um fio da eliminação. Como alguém teria que vencer, tal “honraria” coube ao italiano Vincenzo Nibali (Astana), com o francês Sylvain Chavanel (Quickstep) em segundo e o espanhol Alejandro Valverde (Caja Rural) em terceiro.
No dia 17, os
ciclistas partiram de Albufeira com destino ao Alto do Malhão para a última
etapa da edição 2023 desta Volta. Uma etapa de montanha com subidas de até 10%
de inclinação na primeira metade e, na parte final, subidas de 12% e uma
chegada em 11%. Com boa distribuição de metas volante ao longo do percurso, 11
ciclistas ainda tinham chances de título.
A corrida, disputada
em um dia nublado e sem muito calor, foi emocionante. O então camisa vermelha,
Filippo Ganna, teve problemas mecânicos logo no início e caiu para o final do
pelotão. Para aumentar o drama, outros ciclistas que ainda tinham chances de título,
como Mathieu Van Der Poel e Lance Armstrong, saíram em fuga, obrigando Ganna a
trabalhar forte para tentar conter os escapados.
Na última subida,
André Greipel liderava, quando foi ao chão. Quem vinha bem colocado a corrida
inteira e atacou para vencer de forma avassaladora foi Mathieu Van Der Poel e
foi aí que tudo ficou em um tremendo suspense, aguardando a apuração de três
resultados. O primeiro era no TCB, analisando as imagens da queda de Greipel
para ver se puniria alguém pela manobra. O Tribunal decidiu que ninguém era
culpado e, assim, a classificação final foi mantida. O holandês Mathieu Van Der
Poel (Corendon Circus) foi o vencedor, com o luxemburguês Frank Schleck (Saxo
Bank) em segundo, no mesmo lugar onde vencera em 2020, e o espanhol Oscar
Freire (Rabobank) em terceiro, repetindo o feito de 2019, quando também chegou
nesta posição na mesma etapa.
A segunda apuração era a dos pontos que definiriam o campeão de montanha. Ao final, o vencedor foi o espanhol Oscar Pereiro Sio (Caisse D’Epargne), que conquista seu primeiro título no ano e o sexto na LMC.
A terceira e mais emocionante apuração foi a do campeão geral. E quem venceu foi o holandês Mathieu Van Der Poel (Corendon Circus), que só precisava chegar em terceiro, mas venceu de forma incontestável e ainda viu Filippo Ganna chegar em décimo quinto para coroar seu primeiro título na LMC.
No dia 18, Greg Van
Avermaet se juntava aos ciclistas independentes para o GP de Estoril 2023. A
prova tem duas metades bem distintas. A primeira é totalmente plana e a segunda, com
montanhas que vão de 7 a 9% na linha de chegada. Um dia de sol e um pouco de
calor brindou os atletas nesta corrida.
Enquanto o terreno estava plano, o pelotão andou junto, com uma tentativa de fuga aqui e acolá. Quando as montanhas chegaram, se separaram os homens dos meninos. E foi no terreno que mais brilha, depois de ser terceiro em 2021 e 2022, que o equatoriano Richard Carapaz (Movistar) conseguiu finalmente vencer em Estoril. Em segundo lugar chegou o espanhol Juan Jose Cobo Acebo (Caja Rural), a mesma posição que conseguira em 2022. E, em terceiro, o belga Axel Merckx (T-Mobile). Foi a segunda vitória seguida de Carapaz no circuito independente e o segundo pódio seguido com os mesmos protagonistas sendo que, na Itália, as posições de Cobo Acebo e Merckx foram invertidas.
No dia 19, o norte da
Bélgica foi sacudido pela primeira das Clássicas Monumentos. O Tour de
Flandres, Ronde Van Vlaanderen ou a Mais Jovem pedia passagem, com seu início
plano, trechos em pavê na metade e dois muros difíceis antes da chegada em
sprint. O primeiro muro tem 10% de inclinação e o segundo, com 12%, é o temido
Muur-Kapelmuur.
Se a primeira servir de parâmetro para as demais, podemos esperar grandes coisas nesse ano. Uma Clássica na maior concepção da palavra, com ataques e contra ataques, ciclistas tentando se organizar para sobreviver e muito drama. O calor poderia prejudicar o andamento da prova, mas isso não aconteceu. Um grupo de seis ciclistas saiu logo no início e, nos trechos de pavê, foi reduzido à metade, mostrando que a vitória ficaria entre eles. Mas bastou chegarem os muros que Francisco Chamorro deixou os companheiros de fuga para trás. O argentino da Credite Agricole venceu sua primeira Clássica Monumento com sobras, seu primeiro título no ano e quarto na LMC. No segundo lugar chegou o inglês Bradley Wiggins (Sky), que sobreviveu ao Muur-Kapelmuur e se descolou do terceiro colocado, o brasileiro Murilo Fischer (FDJ).
No dia 20, o mesmo
palco da Clássica Monumento sediava o Tour de Flandres Espoirs, ou Ronde Van
Vlaanderen Beloften, com o início, o meio (este em pavê) e o fim planos e,
entre eles, subidas de 10 e 11%, algumas com muros. E um dia de muito calor
para brindar os seis ciclistas independentes nesta prova.
No dia 22 se iniciava
uma das provas mais apaixonantes do ciclismo. O Tirreno Adriático cruza a
Itália de um lado a outro ao sul da Ilha de Elba, partindo da costa do Mar
Tirreno e chegando na costa do Mar Adriático. Por esse motivo, é conhecida como
a Corrida Entre Dois Mares. Recheada de montanhas em todas as etapas (a
primeira, inclusive, uma crono escalada), tem um perfil muito mais voltado para
os escaladores do que para os ciclistas por etapas. Embora muitos digam que é
preparatória para a Milan San Remo e para o Giro D’Italia, há muito deixou de
ser assim considerada, dada a paixão que desperta nos fãs do esporte, e ao
cobiçado Tridente de Ouro oferecido ao seu campeão, um dos troféus mais
icônicos do mundo esportivo.
Embora fosse uma
crono escalada, com a subida dificultando a vida no meio do traçado, isso não
pode ser usado como desculpa para mais um contra relógio de nível muito baixo.
Assim como no Algarve, ninguém fez no tempo mínimo, mas os italianos não
estavam nem aí para isso, pois o vencedor foi Filippo Ganna (Acqua &
Sapone), com o vencedor desta etapa em 2019 e 2020, o inglês Chris Froome (Sky)
em segundo, e o eslovaco Peter Sagan (Bora), em terceiro. O desempenho italiano
foi melhor ainda por causa de Danilo Di Luca em quarto e Domenico Pozzovivo em
sexto.
O delírio italiano se fez presente de diversas formas neste Tirreno Adriático, mas seu ápice foi na terceira etapa. Além do pódio ser só de italianos, foi feita uma histórica quadrifeta, com Damiano Cunego em primeiro, Danilo Di Luca em segundo, Michele Scarponi em terceiro e Fabio Aru em quarto. Infelizmente, toda essa alegria contrastou com as várias quedas que ocorreram em todas as etapas. Foi de longe a competição com o maior número de acidentes até aqui, o que levou quatro ciclistas a abandonarem a edição deste ano.
No dia 30, os ciclistas saíram de uma região montanhosa em San Benedetto del Tronto e, a partir da metade do caminho, encontraram tudo plano na mesma cidade, para a etapa derradeira da competição. Com uma meta volante logo no início e nove ciclistas na disputa, muita coisa poderia acontecer neste dia e céu limpo e temperatura em elevação. Após a meta volante, o número de postulantes ao título caiu para cinco. Superadas as montanhas do início e com tudo plano pela frente, alguns ciclistas partiram, outros tentaram controlar e o pelotão se esfacelou completamente. Na parte final, o pelotão voltou a se agrupar e manteve uma distância curta para os dois escapados. No entanto, o que se viu foi a pior chegada em sprint da História da LMC. Os ciclistas diminuíram o ritmo e ninguém se esforçou, à exceção do vencedor. O colombiano Fernando Gaviria (Quickstep) vinha na fuga, sprintou e voltou a vencer a etapa que conquistara em 2019. Seu companheiro de fuga, o eslovaco Peter Sagan (Bora) não se esforçou e não foi capturado por ninguém, conquistando a segunda posição. Na terceira posição chegou o italiano Domenico Pozzovivo (AG2R), para a alegria do público local.
Apesar da disputa feroz entre os três primeiros (separados por apenas dois pontos), nenhum dos postulantes ao título jamais andou no grupo da frente e sequer pontuou ao final da etapa. Assim, nada mudou e os títulos do geral e de montanha ficaram para o alemão Marcel Kittel, que chegou em vigésimo lugar e celebrou o cobiçado Tridente de Ouro. Foram os dois primeiros títulos de Kittel na temporada, chegando a seis na LMC.
Os italianos comemoraram muito, vencendo duas etapas, indo ao pódio sete vezes (só não tiveram pódio na segunda e na quarta etapas) e fazendo a histórica quadrifeta da etapa 3. Mas o sentimento geral foi de desrespeito a uma das provas mais importantes do calendário. O Tirreno Adriático merecia mais do que um festival de quedas, provas com pouca emoção, ritmo baixo e muitos abandonos. Um intenso debate domina o meio após essa prova de nível tão decepcionante.
BRABANTE PRIJLS
No dia 31, Lance Armstrong, Fabian
Cancellara, Bauke Mollema e Thor Hushovd se juntavam aos ciclistas
independentes na região central da Bélgica para mais uma clássica em Flandres.
O Brabante Prijs só é plano no início e na chegada e, entre esses dois trechos,
muitas subidas, muros e pavês duríssimos.
Logo no início, um boliche levou ao chão alguns ciclistas. Dentre os que caíram, Juan José Cobo Acebo e Richard Carapaz voltaram às bicicletas e aceleraram para voltar ao pelotão, enquanto Lance Armstrong e Fabian Cancellara mostravam toda a categoria de quem corre no calendário. Mas a prova era do circuito independente e, para se destacar, é preciso entender o estilo da prova. No muro, os ciclistas do calendário cansaram e os independentes atacaram. Ao final, uma linda prova de superação terminou com a vitória do espanhol Juan José Cobo Acebo (Caja Rural) e com o equatoriano Richard Carapaz (Movistar) em segundo. Na emocionante disputa pelo terceiro lugar, o brasileiro Magno Nazareth (Vasco da Gama) superou Lance Armstrong e Fabian Cancellara.
1º Mathieu Van Der Poel (Corendon Circus) - 65 pontos;
2º Frank Schleck (Saxo Bank) e Filippo Ganna (Acqua & Sapone) - 60 pontos.
RANKING INDEPENDENTE
1º Juan José Cobo Acebo (Caja Rural) - 15 pontos;
2º Richard Carapaz (Movistar) - 13 pontos;
3º Axel Merckx (T-Mobile) - 12 pontos.
NOTAS RÁPIDAS
- Com 10 competições, março foi um mês bem agitado. Literalmente, do primeiro ao último dia do mês nós vimos bicicletas correndo pelas ruas do mundo.
- Foram 3 corridas por etapas e 7 clássicas, mas um mês muito especial pelas provas que foram disputadas. Tivemos a primeira Clássica Monumento e também o Tirreno Adriático, o que despertou o interesse dos fãs de ciclismo.
- Do lado estrutural, os novos troféus de montanha das Grandes Voltas ainda não chegaram, infelizmente. Em abril teremos o Giro D'Italia e o troféu será o que já vem sendo utilizado. Mas isso não quer dizer que não teremos novidades. A Liga continua trabalhando forte!
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